Como combinar papéis de diferentes gramaturas sem deixar o caderno grosso

Como combinar papeis de diferentes gramaturas sem deixar o caderno grosso

Criar um caderno artesanal harmonioso é uma arte que vai muito além da costura e da capa. O equilíbrio entre os tipos de papel é o que dá fluidez, conforto e identidade à peça. Muitos artesãos iniciantes acreditam que quanto mais variado o papel, mais bonito o resultado e isso é verdade até certo ponto. O segredo está em combinar diferentes gramaturas sem deixar o caderno pesado ou desequilibrado.

A escolha errada pode resultar em um caderno que não fecha direito, abre de forma irregular ou até rasga nas dobras. Já uma combinação bem planejada transforma o objeto em algo funcional e sofisticado.
A seguir, você vai aprender a combinar papéis de diferentes espessuras com leveza, precisão e harmonia.

Entendendo as gramaturas e suas funções

Antes de combinar, é preciso compreender o que significa a gramatura.
A gramatura indica o peso do papel em gramas por metro quadrado (g/m²). Quanto maior o número, mais espesso e rígido ele será. Essa medida influencia diretamente na flexibilidade, absorção e aparência das páginas.

As principais faixas de gramatura:

  • 75g a 90g: papéis leves, ideais para escrita ou impressão.
  • 100g a 120g: ótima base para cadernos artesanais comuns, com equilíbrio entre leveza e resistência.
  • 150g a 200g: papéis intermediários, usados para páginas de destaque, divisórias ou aquarela leve.
  • 250g a 300g+: papéis grossos e estruturais, geralmente usados em capas ou miolos artísticos.

Compreender essa hierarquia ajuda a planejar a transição de espessura dentro do caderno, evitando degraus ou deformações na lombada.

O segredo está no equilíbrio visual e estrutural

Misturar gramaturas é como compor uma paleta de cores: é preciso harmonia. O caderno ideal equilibra leveza, textura e função.

Três princípios para combinações bem-sucedidas:

  1. Função: cada tipo de papel deve ter um propósito claro (escrita, pintura, colagem ou decoração).
  2. Progressão: distribua as gramaturas de forma gradual, evitando alternâncias bruscas.
  3. Proporção: quanto mais espesso o papel, menor deve ser a quantidade de folhas dele no miolo.

💡 Exemplo:
Um miolo com 80% de papel 90g e 20% de papel 180g mantém firmeza e flexibilidade, sem engrossar demais.

Passo a passo para combinar diferentes gramaturas

Escolha o papel base

Comece definindo o papel principal, que será o núcleo do caderno geralmente entre 90g e 120g. Ele será usado na maior parte das páginas e determinará o comportamento do restante.

Esse papel precisa ter:

  • Superfície agradável ao toque.
  • Gramatura suficiente para suportar escrita, canetas e lápis sem transparência.
  • Boa dobradura, sem rachaduras.

Papéis offset, vergé e pólen são ótimos pontos de partida.

Selecione papéis complementares

Escolha papéis mais espessos (150g a 200g) para variação sensorial e papéis mais finos (75g a 80g) para leveza entre seções.

Use-os para:

  • Páginas especiais ou divisórias visuais.
  • Inserções para desenhos, aquarelas ou colagens.
  • Transições sutis entre seções do caderno.

💡 Dica: misturar texturas (como papel reciclado, kraft ou vegetal) cria um contraste interessante sem pesar o miolo.

Planeje a sequência das folhas

Organize os papéis como se fosse uma orquestra de espessuras o ritmo deve ser fluido, sem saltos abruptos.

Exemplo de sequência ideal:

  • 4 folhas de 90g (escrita comum)
  • 1 folha de 150g (divisória ilustrada)
  • 4 folhas de 90g
  • 1 folha de 120g (página especial ou textura diferente)

Repita o padrão até completar o caderno.
Isso cria harmonia tanto na lombada quanto na percepção tátil durante o uso.

Ajuste o número de folhas por assinatura

Cada conjunto de folhas dobradas (assinatura) precisa ter espessura semelhante para não criar degraus.
Por exemplo:

  • Se uma assinatura usa papel 150g, reduza o número de folhas nela (use 3 ao invés de 6).
  • Se a assinatura for de papel 90g, pode usar mais folhas (5 a 6) sem problema.

Esse ajuste fino garante que todas as partes do caderno tenham a mesma altura ao serem empilhadas.

Refile o conjunto antes da costura

Depois de dobrar e organizar as folhas, é comum que os papéis de gramaturas diferentes criem pequenas sobras nas bordas.
Para corrigir:

  1. Alinhe bem todas as assinaturas.
  2. Use uma régua metálica e estilete afiado.
  3. Faça o corte em pequenas passadas firmes, mantendo o conjunto preso por grampos ou presilhas.

O refilo é o que dá o acabamento limpo e simétrico, essencial para uma encadernação profissional.

Evitando o caderno grosso e desproporcional

Mesmo com gramaturas diferentes, o caderno precisa abrir suavemente e fechar sem resistência. Para isso, alguns cuidados fazem toda a diferença:

  • Limite o total de páginas a cerca de 80 a 100 folhas (dependendo da espessura).
  • Evite papéis acima de 200g no miolo use-os apenas como divisórias.
  • Use linha firme, mas não aperte demais a costura, para não “inflar” o miolo.
  • Prense o caderno após a costura por pelo menos 24 horas para estabilizar a espessura.

Esses detalhes tornam o caderno leve e equilibrado, mesmo com variedade de papéis.

Toques estéticos e funcionais

Além da técnica, combinar gramaturas também é uma questão de estilo. O contraste entre papéis cria ritmo visual e sensorial:

  • Papéis finos transmitem fluidez e elegância.
  • Papéis espessos dão sensação de solidez e importância.
  • Papéis translúcidos (como vegetal) criam respiros visuais entre blocos de conteúdo.
  • Papéis coloridos podem marcar seções temáticas com sutileza.

O segredo está em usar essas diferenças como recurso de design, não apenas como variação material.

Quando o equilíbrio se transforma em arte

Combinar diferentes gramaturas é como compor uma música silenciosa — cada folha tem seu ritmo, sua textura e sua função dentro da melodia do caderno. Quando o conjunto se abre suavemente, as páginas se alternam com leveza, e o toque revela variações sutis, você percebe que atingiu o ponto ideal: técnica e sensibilidade caminham juntas.O caderno, então, deixa de ser apenas um objeto de papel. Ele se torna uma experiência tátil, visual e emocional.
E, nesse momento, você entende que o verdadeiro segredo não está em evitar o grosso, mas em criar o equilíbrio invisível que só quem ama o processo artesanal é capaz de perceber e sentir.

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